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03 outubro 2012

( Resenha) John Grisham – Tempo de Matar

 Tempo de Matar, John Grisham,  Edição: 1, Rocco, 1994 , Pág: 576

Pena de morte. Até que ponto se é contra? Até que ponto se é a favor? Se dois drogados estupram, torturam e tentam matar uma menina de 10 anos, qual a pena que deveriam ter? E se um pai, chocado com todas estas barbaridades cometidas contra a filha, resolve fazer justiça com as próprias mãos, o que ele merece? Pelas leis do Mississípi, Estados Unidos, 20 anos de prisão para os primeiros e a cadeira elétrica para o segundo.
Tentando reverter este paradoxo legal, o advogado Jack Brigance enfrenta mais um problema para defender seu cliente, Carl Hailey, preso depois de matar os dois estupradores: o racismo. A opinião pública fica dividida entre os que apoiam a atitude de Hailey e os que não admitem que um negro acabe com um branco.
A Ku-klux-klan resolve comprar a briga. Os jurados e o juiz são ameaçados. O advogado de defesa tem sua casa incendiada, o marido de sua secretária é espancado e morre, sua estagiária sofre um atentado e seu segurança fica paralítico por causa de um tiro destinado a ele. E, pior, todos dizem que a causa é perdida.
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  Sabe um autor que você sempre ouviu falar e teve curiosidade, mas certa falta de coragem de ler. E se fosse um livro péssimo? E se o autor não fosse tudo isso? Eu ia ficar muito decepcionada. Eu estava enganada. Inicialmente minha curiosidade era sobre o autor e não o livro. Não deveria ser porque são os livros que fazem os autores.
O que me fez ler esse livro foi essa frase: "Por um breve momento, desejei ferozmente matar o estuprador, ser o pai daquela menina, fazer justiça. Havia uma história naquele caso", afirma o próprio John Grisham no prefácio do livro.
É um livro brutal. O autor não faz meias palavras. Um livro que começa com a descrição realista do estupro da menina pelos dois bêbados. Sendo como uma descrição tão intensa que você torce para alguém chegar, para fazer aquilo parar. Quando você se pergunta como eles podem tratar uma criança daquela forma.
“A menina tinha dez anos e era baixa para a idade. Estava deitada sobre os cotovelos amarrados atrás das costas com uma corda amarela de nylon. Tinha as pernas grotescamente abertas, o pé direito amarrado a um pequeno carvalho e o outro à estaca tombada de uma velha cerca. A corda cortava-lhe os tornozelos e o sangue escorria-lhe pelas pernas abaixo. O rosto estava ensanguentado e inchado, com um dos olhos fechado, com o outro via o homem branco sentado na caminhonete. Não olhava para o homem em cima dela. Ele arquejava, suava e praguejava e a estava machucando.”
Como não se emocionar, como não se colocar no lugar da menina, da mãe ou do pai. Como não odiar esses dois homens e desejar sua morte? Como não ter empatia com a menina? Impossível, eu digo.
Depois de uma busca feroz, a menina espancada, violentada e quase morta é encontrada. Largada em uma estrada com se fosse nada. Porque para os estupradores era isso que ela era, nada. Apenas uma coisa para eles usaram e depois jogarem fora. A família da criança que já estava louca de preocupação fica desesperada ao saber do acontecido, seus piores pesadelos estavam se tornado realidade.
O pai enlouquecido de dor e raiva planeja sua justiça ou sua vingança.
“Não tenho alternativa, Jake. Nunca mais vou dormir sossegado sabendo que aqueles dois estão vivos. Devo isso à minha filha. Devo-o a mim mesmo e devo-o à minha gente. Vai ser feito.”
A verdade é que a justiça se entrelaça com a vingança de um modo que sinceramente você torce para que o homem mate os estupradores. Não apenas uma justiça para ele, mas também para os leitores. Porque ele estava certo da impunidade dos dois homens, eles eram brancos, eram queridos na cidade, eles não seriam punidos devidamente pelo crime que cometeram. Segundo as leis do Mississipi, os estupradores teriam 20 anos e prisão e Carl Hailey, o pai por matá-los, pegaria a cadeira elétrica.
“Podem conseguir liberdade condicional ao fim de treze anos. Sete pelo estupro, três pelo rapto e três pela agressão. Isso, supondo que sejam condenados por todas as acusações e à pena máxima.” Pag. 18
E é ai que a historia se inverte, não estão mais em julgamento os dois estupradores da garotinha de apenas 10 anos, não, a partir desse momento o julgamento era contra o homem negro que matou dois brancos. E é então que entra em questão o racismo. Um preconceito que dividiu a cidade em dois.
Havia os que apoiavam o pai que matou os homens que espancaram e violentaram sua filhinha, mas havia também os que queriam sua morte, sua condenação, apenas por ele ser negro.
Então Jack Brigance, o advogado, aparece com um dos personagens principais. Ele se envolve de corpo e alma nessa defesa, porque ele tinha empatia pelo Carl Hailey, ele demonstra ser capaz de muito para defender o homem, mas também por ser um caso sem precedentes, uma causa praticamente perdida. Jack queria fazer historia e queria absolver Carl Hailey. Mesmo com as ameaças que ele e sua equipe sofrem, mesmo com o Ku-Klux-Klan em seus calcanhares, ameaçando e aterrorizando. Sua estagiaria foi espancada, uma bomba foi colocada em sua casa, sua casa foi queimada, mas ele queria e precisava absolver Carl. Porque para ele isso era a justiça.
O julgamento se resolve com a questão que fica na mente de todos os leitores: E se... E se fosse sua filha? E se a menina fosse branca? E se fossem dois negros e um pai branco?
A empatia do júri e do leitor que é estimulada.
“Muito bem, pense na Hanna. Olhe para aquela criança doce e inocente saltando à corda. Você é mãe. Agora, pensa na filhinha do Hailey, espancada, ensanguentada, chamando pela mãe e pelo pai...” Pag. 35
Imagine dois homens, dois drogados espancarem e estuprarem sua filhinha. Imagine você saber que a lei vai ser branda com eles por serem brancos e a menina negra. O que você faria? É isso que o autor e Jack Brigance como o advogado quer que pensemos.
E você fosse o júri, condenaria esse homem?
Tempo de matar é fascinante tanto para um estudante de direito com eu como para o leigo. Justiça é o que todos querem e o que, sinceramente, poucos conseguem. Fala sobre a impunidade da lei. Esse livro fala sobre justiça e injustiça. Fala sobre o preconceito e sobre a lei que deveria ser igual para todos, mas não é, fala que fazer justiça ou ter uma vingança são coisa diferentes, mas ainda assim, iguais.
Uma última citação para ver o que o autor queria...
“Pediu a todos que fechassem os olhos e ouvissem o que ela ia dizer. Pediu-lhes que imaginassem que a menina tinha cabelos louros e olhos azuis, que os dois violadores eram negros, que eles tinham amarrado o pé esquerdo dela numa cerca e o direito numa árvore. Que a violaram repetidamente e a insultaram porque ela era branca. Pediu-lhes que imaginassem a garotinha ali deitada, chamando pelo pai, enquanto eles lhe davam pontapés na boca, quebrando-lhe os dentes, quebrando -lhe os maxilares, o nariz. Disse-lhes que imaginassem dois negros bêbados entornando cerveja em cima dela e urinando no seu rosto e rindo como, anormais.
 E depois acabou por lhes dizer que imaginassem que a garotinha lhes pertencia, que era sua filha. Recomendou-lhes que fossem honestos com eles mesmos e que escrevessem em um papel se matavam ou não aqueles negros miseráveis se pudessem. E eles votaram, voto secreto...”


Kissia

6 comentários:

  1. Oi Kissi, este livro não tem um filme com o Samuel Jackson? pelo menos a história é bem parecida. Não li o livro, mas no filme fiquei extremamente revoltada e chorei em diversas partes.
    Bjs, Rose.

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  2. Oi! Tudo bem?
    Puxa, eu li esse livro já faz um tempinho, e só posso concordar com tudo o que você disse: é um livro forte, sim, mas muito bem escrito, e é impossível não se envolver com o enredo.
    Quanto aos termos jurídicos, confesso que me confundiram bastante... kkk Não entendo nada de direito, e, bem, eu meio que pulei essas "partes".... kkk
    Mas é um ótimo livro, sim, e o final é magnífico!

    Ótima resenha!

    Um beijo,
    Inara
    @lerdormircomer
    http://www.lerdormircomer.com.br/

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  3. Boa noite, Rose, sim existe um filme com o mesmo nome com o Samuel Jackson.

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  4. Caraambaa! Eu estou nesse mesmo paradigma, ainda não li nenhum livro do autor e fico com medo de ler e não gostar, mas essa resenha foi ótimaa! Credo, eu queria ter o livro em mãos agoraa! Me parece ser muiiito bom! Vou parar com esse medo e vou ler algum livro desse autor! Adorei a resenhaaa, e quero ler esse livro! Eu com certeza faria a mesma coisa que o pai dessa criançaa, a injustiça é grande demais para confiarmos nela, esses caras mereceram morrer mesmo, era apenas uma criançaa! Tenho nojo de estrupadores e repulsa de quem é preconceituoso assim, dizendo para condenar porque é negro! Affz! Bem, mais uma vez, adorei a resenha! Parabéns! o/

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  5. Sempre que vou à livraria seguro um livro de John entre os que irei comprar, mais por medo de não me agradar acabo deixando justamente os dele.Sua resenha me fez ver o autor com outros olhos,espero que na próxima ida a livraria volte com um livro dele. Obrigada!!!

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  6. É bom ler essas resenhas, pois começamos a ter uma ideia sobre o autor e sua forma de escrever, mesmo sem saber se vamos gostar ou não da leitura... Gosto desse tipo de atitude.

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