(Resenha) André Vianco - Os Sete

Título: Os Sete; autor: André Vianco; editora: Novo Século; ano: 2002, números de páginas: 380. 

 Uma caravela portuguesa de cinco séculos é resgatada de um naufrágio no litoral brasileiro. Dentro dela, uma misteriosa caixa de prata esconde um segredo: sete cadáveres aprisionados, acusados de bruxaria. Apesar das advertências grafadas no objeto de prata, a equipe do Departamento de História da Universidade Soares de Porto Alegre decide violar a caixa para estudar os corpos. Afinal, que perigo poderiam oferecer aqueles sete cadáveres? Nenhum. Mas depois que o primeiro deles acorda...

Eu amo histórias de vampiros como aquelas bem sombrias antigas como Nosferatu, sei que é um filme, mas continuando Drácula, Carmilla, a série Crônicas Vampirescas da Anne Rice, sendo essa última umas das minhas favoritas. Acho que os clássicos que a maioria conhece são os meus favoritos.

Quando eu esgotei meu repertório de livros e contos antigos comecei a procurar livros novos, foi então que li alguns estrangeiros realmente bons como Vampire Academy, IAN A Guardiã da Meia Noite e outros péssimos, mas o que me surpreendeu foi esse. Eu encontrei algo que eu jamais iria imaginar que houvesse.

Sabe algo o que eu nunca imaginei encontrar se passando no Brasil? Uma boa história sobre vampiros. É difícil de imaginar e muita gente ainda torce o nariz, mas o André Vianco conseguiu essa proeza.

A princípio fiquei bastante receosa justamente porque nunca tinha lido um livro brasileiro sobre vampiros, ainda mais que se passava no Brasil! Mas a história parecia ser ótima e admito que como sempre a capa me influenciou. Aquele “Tem gente que ainda não acredita em Vampiros...” Eu li aquilo como um desafio e aceitei. Eu não me arrependi.

André Vianco escreve de uma forma bem fluida que te prende, seus personagens são muito bem explorados tanto os secundários quanto os principais e você sempre descobre que se ele colocou algum personagem secundário em destaque é porque mais a frente ele vai ter uma papel importante, seja no livro ou na continuação, ou seja, ele amarra muito bem a história sem deixar “fios soltos”.

Acho que um dos maiores encantos da história é passar no Brasil, são cenários que conhecemos, ás vezes, ruas em que passamos para ir ao trabalho ou andando, é tão fácil de se viajar para dentro do livro justamente por isso.

André Vianco tem um jeito “bem brasileiro” de escrever, informal e descontraído, é algo realmente fácil de imaginar no Brasil, algo que com certeza seria feito de um brasileiro para outro brasileiro. Apesar das críticas aos palavrões nos livros dele, eu particularmente não liguei, somos sim meio boca suja.

Agora vamos a história...

 “Quando a água inundar sua ruaQuando o gelo resfriar seu sanguePonha-se a correr, use seu cavalo mais rápidoE prepare-se para conhecer Os setePois eles, agora, vão encenar o espetáculo mais bizarro da Terra.”

A história conta como um grupo de jovens de Amarração, RS, encontram enquanto mergulhavam uma caravela antiga. Nessa caravela havia preciosidades que lhe renderiam um bom dinheiro, mas também havia uma caixa de prata.

“Haviam encontrado algo valioso. Algo que lhes traria lucro.Haviam encontrado algo maldito, também. Algo que lhes traria a morte.”

 E esses amigos fazem um acordo com a USPA para tirar a caixa da caravela naufragada. Já na faculdade, ignorando todos os avisos, eles abrem a caixa e sem querer despertam monstros que nunca imaginaram.

"Nobres homens de bem, jamais ouseis profanar este túmulo maldito. Aqui estão sepultados demônios viciados no mal e aqui devem permanecer eternamente. Que o Santo Deus e o Santo Papa vos protejam".

Sem comparar, mas já avisando para os incautos, esse livro não tem absolutamente nada a ver com Crepúsculo, são completamente distintos, apesar de os vampiros terem poderes especiais. Os vampiros de André Vianco são aquele tipo que tem sede de sangue e destruição, eles são impiedosos, são monstros de verdade. É uma história de suspense e terror, é um livro bem sombrio.

Os vampiros de André Vianco não tem nada de bonzinhos, sim, eles tem questionamentos de por que se transformaram o que são, mas isso é apenas uma pequena parte e não o livro todo. Eles realmente não tem nenhuma qualidade redentora e não tentam dar desculpas para os seus atos. Eles são monstros e isso é inquestionável. Eles são realmente vampiros sombrios como os das antigas histórias que tanto gosto, mas tem uma pitada deliciosa de modernidade.

Cada vampiro que foi despertado tem um poder especial e um apelido relacionado a ele, são eles: Inverno, Acordador, Espelho, Lobo, Tempestade, Gentil e Sétimo, sendo os últimos dois quem tem poderes que não são relacionados aos seus apelidos e são muito importante para a trama.

“Dentro de uma moldura esculpida na prata, além da palavra INVERNO havia mais seis:— Lobo... — começou ela, lendo e murmurando baixinho, quase inaudível. — ... Tempestade, Inverno, Gentil, Espelho... Acorda... Acordador, Sétimo.— São sete. — disse César, atrás de Tiago.” 

O livro é divido em partes, mas isso não está escritos assim explicitamente. Da para ver claramente o Antes dos vampiros despertarem e o depois. O clima pacifico de Amarração me pareceu desde o princípio “A calmaria antes da tempestade” e quando a tempestade chega, vamos dizer que ninguém estava pronto para isso. Mais isso é bem no início, o livro não demorar a engrenar e pegar fogo.

O livro também é dividido em duas partes mais claramente, a fuga de Eliana e Tiago com seus amigos e o despertar dos vampiros, no meio do livro as duas tramas se interligam.

Ao longo do livro são narrados diversos fenômenos que a princípio parecem ser aleatórios, mas com o desenrolar dos fatos vemos que são causados como aviso para não abrir a caixa e depois são causados pelos vampiros despertos.

A história dos vampiros é muito bem elaborada, no livro O Senhor da Chuva que é anterior e pouco relacionado com Os Sete, o autor chega a elaborar uma teoria, que eu amei, de como surgiram os vampiros. Seus livros se ligam de tal forma que dão história suficiente para subséries, deixando claro que depois que o caixão foi aberto, o mundo jamais seria o mesmo.

É claramente uma história de terror, mas também tem umas pitadas de humor muitas vezes estreladas pelos vampiros. Como seriam vampiros de 500 anos na modernidade? Eles se espantam com a quantidade de pessoas, com os carros, a eletricidade, enfim tudo que é muito comum para a gente. Tal detalhe dá ao livro uma leveza sem perder seu cenário sombrio.

As cenas de lutas entre os vampiros e os seres humanos me encantaram bastante, são incrivelmente bem descritas, você se sente dentro delas, fica impressionado com a gana de viver dos personagens. O Tiago sempre me surpreendeu bastante, ele tem uma garra enorme de querer proteger e salvar a ele e seus amigos.

E por último, mas não menos importante, o livro tem continuação em Sétimo, mas como disse Vianco no livro, isso é outra história.

“Mas agora, o que aconteceu deste encontro para a frente, bem... isso já é uma outra história.”

Tentei não me estender muito na descrição da história para não dar spoiler.