Titulo: O Escriba de Granada, Auto: Gilberto Abrão, Edição: 1, Editora: Companhia Editora Nacional, Ano: 2014, Páginas: 360
O Escriba de Granada narra à história de dois personagens em épocas e lugares diferentes. O primeiro a nos ser introduzido é Jorge, que quando criança foi abandonado pelo pai. Sem outra escolha, a mãe o coloca em um internato a fim de trabalhar integralmente em seu empreendimento. Mal sabe ela o mal que fez ao filho ao colocá-lo naquele lugar.
O que acontece é que havia um padre que abusava sexualmente das crianças. E fez o mesmo com Jorge. Desde então, Jorge teve ódio de seu pai por tê-lo abandonado e levá-lo a passar por tudo isso. Esse episódio deixou marcas profundas no menino — fazendo-o odiar e criticar homossexuais, comunistas, negros e muçulmanos quando mais velho. Além disso, ele não conseguia durar em nenhum relacionamento com mulher alguma.
Por outro lado, conhecemos a história de Abul Qacem que mostra a longa e grande aventura entediante do auge e queda de Granada para os reis católicos. E para melhorar ainda mais as coisas, ele se apaixona pela mulher do rei, a sultana Aisha e vive um longo romance proibido.
Uma história
pra quem gosta de muita informação em pouco espaço, lotada de tramas, altos e
baixos, num estilo literário bem cru e realista, com uma linguagem que te
surpreende o tempo todo sendo hora requintada, outra totalmente aberta e
literal.
Se você gosta
de tramas múltiplas, corre sérios riscos de se apaixonar por esse livro que
conta duas histórias muito diferentes com uma ligação improvável, mas não
impossível.
Um cara normal, de meia idade, cheio de
frustrações e mediocridades no auge da ditadura brasileira contracena com o
relato do drama de Abul Qacem, o último escriba da grande cidade de Gharnata.
Alguém aí consegue ver a ligação?
Perdido entre
os dilemas de sua própria sexualidade reprimida, preso ao cuidado de sua mãe e
com um histórico de total desastre com as mulheres, o funcionário publico
quarentão e mal amado chamado Jorge procura qualquer coisa que o leve ao seu
pai, de quem só possui uma foto e tenras lembranças. Acaba por encontrar uma
série de relatórios escritos pelo escriba de Gharnata Abul Qacem, que sofre em
seu amor secreto pela sultana Aisha, esposa do rei a quem serve.
Jorge acaba
descobrindo relatos sobre a maldição de Gharnata e sobre o mal que foi lançado
sobre a descendência de Abul Qacem. “A maldição de Gharnata perseguirá seus
descendentes até a vigésima geração!”
Seria esse o
elo que liga essas duas histórias tão separadas pelo tempo?
A diagramação é
maravilhosa. A letra não é grande, não é pequena, a margem não é estreita nem
larga demais e a arte feita pras bordas nas sessões onde conta-se os relatos do
escriba, é simplesmente linda. Os números de página no rodapé são escritos numa
fonte que lembra a escrita árabe. Os capítulos não tem nome, apenas um número
desenhado lindamente, o que dá um ar de mistério. Você não sabe sobre quem esse
capítulo vai falar.
Assim que você
entra em pânico querendo saber sobre o desfecho da história de Jorge, o
capítulo acaba e você faz o que? Vira a página loucamente pra ver o que tem
sobre ele em seguida, e aí, COMEÇA A HISTÓRIA DO ABUL QACEM! Mas calma, calma,
gente, isso te irrita só até você continuar lendo e se perder com a história do
escriba. Aí você entra em pânico com ela e quando passa a página: pá! Jorge na
área! Mas aí já nem te irrita, você ta roendo os dedos de curiosidade sobre ele
mesmo!
É uma trama
difícil, admito e chega até a ser um pouco cansativa. Mas o final, na minha
opinião vale os meios.
Com um ar de
mistério decrépito e uma carinha de flashback, esse livro ganha um lugar
merecido na minha estante, ao lado da minha coleção de livros mórbidos,
misteriosos, sinistros e/ou apenas exóticos.
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